Recentemente uma sigla se tornou popular na área das boas práticas de empresas, embora já esteja em discussão há alguns anos. Quem pensa em investir na bolsa com certeza irá se deparar com o ESG (Environmental, Social and Governance) ou ASG, que significa, em português, ambiental, social e governança.
O termo ESG tem sido utilizado para se referir a práticas empresariais e de investimento que se preocupam com critérios de sustentabilidade - e não apenas com o lucro. A adoção do ESG representa uma verdadeira mudança de paradigma nas relações entre as empresas e seus investidores, fazendo com que práticas de sustentabilidade passem a ser consideradas como parte da estratégia financeira das empresas.
Portanto, se engana quem pensa que é obrigatório escolher entre um mundo mais sustentável ou ter bons resultados financeiros em uma empresa. Muito pelo contrário: cuidar do meio ambiente, ter responsabilidade social e adotar melhores práticas de governança são, na verdade, elementos que ajudam no balanço das empresas.
Qual a importância do ESG para as empresas
O ESG é usado como uma espécie de métrica para nortear boas práticas de negócios. Alguns aspectos observados quando se fala em ESG são os impactos ambientais e sociais da cadeia de negócios de uma empresa. Questões como emissão de carbono, gestão de resíduos oriundos de determinada atividade, relações trabalhistas, dentre outras.
Tudo isso ganha força dentro de um contexto em que as empresas têm suas ações listadas na bolsa de valores e há cobranças por parte de acionistas e fundos de investimentos por práticas que garantam a sobrevivência de uma empresa a longo prazo - a maior gestora de ativos financeiros do mundo, Black Rock, tem dedicado atenção especial ao tema e vem apontando uma tendência.
Só para se ter uma ideia do crescimento da relevância de práticas pautadas pelo social, ambiental e governança: se você olhar para o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), indicador que reúne empresas com boas práticas sustentáveis, a alta foi de 257% (final de 2005 até o primeiro semestre de 2020). Em comparação com o Ibovespa, no mesmo período, a alta foi de 198%.
A explicação? Segundo gestores, empresas ESG correm menor risco de se envolver em fraudes, processos trabalhistas e outras ações jurídicas.
Práticas de ESG que podem ser adotadas por empresas
Seja por conta da pressão dos fundos de investimento, ou por conta dos próprios investidores ativos, a mudança de paradigma trazida pelo ESG fez com que as empresas percebessem que a adoção dessas práticas se tornasse um imperativo.
Equilibrar a busca de valor no longo prazo junto de boas práticas é a síntese das ações listadas a seguir:
1- Abrace a sustentabilidade
O foco aprimorado em sustentabilidade é um dos pilares do ESG e prioridade para muitos investidores. É importante que eles estejam não apenas na agenda de discussão, mas integrados à estratégia da empresa como um todo. A tendência é que as empresas de sucesso se engajem nas questões ambientais e sociais como parte da criação de uma estratégia de negócios sustentável e elas passem a integrar seu perfil de governança, atentando-se para práticas como: tratamento de resíduos, consumo consciente de energia, iniciativas para redução da emissão de gases de efeito estufa, prevenção de riscos ambientais, utilização eficiente da água, conservação da biodiversidade.
2 - Engaje os acionistas
A comunicação com os acionistas deve estar atenta às mudanças na base de investidores e ao maior foco no valor de longo prazo, incluindo questões de ESG. Esse engajamento dos acionistas, construído ao longo de anos de discussão, é essencial para entender as políticas e expectativas de voto, moldar as ações de sustentabilidade e construir uma preparação para o ativismo social da empresa.
3- Aprimore a governança ESG interna
A Governança Corporativa não deve se limitar à diretoria, e um programa de ESG bem elaborado deve incorporar controles focados em sustentabilidade, em indicadores-chave de desempenho (KPIs) e relatórios em toda a organização. A Governança Corporativa é uma das principais ferramentas para identificar e gerenciar os riscos de uma empresa, proteger os investimentos feitos pelos acionistas e proteger os ativos organizacionais. Ela exerce um papel importantíssimo, especialmente face aos escândalos de corrupção.
Nesse contexto, os critérios de governança monitoram a liderança da empresa, garantem a independência do conselho de administração e a presença de um conselho fiscal, focando na transparência na remuneração dos executivos e nas ações anticorrupção, direitos dos acionistas, conduta corporativa etc.
Um olhar para o futuro
Todos os níveis de gestão devem estar envolvidos na incorporação da sustentabilidade no dia a dia da empresa. Isso requer uma nova cultura empresarial em que o propósito não seja uma reflexão tardia, mas essencial para a existência da empresa. Além disso, uma série de fatores de sustentabilidade corporativa, historicamente não identificados como um potencial financeiro, agora são vistos como fatores materiais para um bom desempenho dos negócios.
Alguns exemplos são os riscos ligados às mudanças climáticas, custos relacionados a uso de derivados de petróleo, escândalos corporativos e/ou trabalhistas, denúncias motivadas por falta de equidade de gênero, entre outros. A conscientização dos investidores em torno dessas problemáticas influencia no valor de mercado e na avaliação de uma empresa.
Mais do que nunca, fundos que investem exclusivamente em negócios vistos como sustentáveis são uma tendência crescente, provando-se mais resilientes que o restante do mercado de capitais.
Empresas preocupadas com boas práticas têm uma visão de negócios de longo prazo e tendem a ser menos frágeis em tempos de crise. O ESG incorpora um conjunto de práticas alinhadas com os consumidores dos novos tempos, cada vez mais preocupados com o que antes, talvez, fosse visto como idealismo, mas que interferem diretamente no resultado dos negócios, uma vez que a sociedade está cada vez mais atenta aos impactos das empresas e toda sua cadeia de produção.